sábado, 6 de novembro de 2010

Sem Lichamentos Coletivos! Que a Justiça Faça a sua Parte!

Novamente Mayara Petruso é notícia na internet e agora pelo fato do próprio pai ter disponibilizado os dados da menina na rede. É preciso ter cabeça fria nessas horas. Muitos, incluindo esse humilde professor, condenaram a atitude da menina e não sem razão. O problema não é esse. Temo pelo clima anti-Mayara que se instaurou em muitos lugares. Com os supostos dados pessoais dela na rede (supostos porque não sei se são verdadeiros e nem verificarei) uma onda de histeria se desencadeou. Gostaria de pedir calma a todos. Ódio não se combate com ódio.
Em primeiro lugar porque a OAB de Pernambuco processou a menina e certamente a sociedade aguarda que a jovem pague de forma justa e proporcional ao tamanho de seu delito - o de preconceito.
Em segundo lugar, como escrevi anteriormente, Mayara Petruso não é o mal em si, sendo um de muitos produtos de uma sociedade. O verdadeiro mal a ser combatido é o preconceito e ponto final. Se nossa sociedade se mobilizar por um mundo mais justo, livre de preconceitos e nosso sistema educacional for preparado com essa finalidade, no futuro não surgirão estudantes que aprendem o ódio para depois reproduzi-lo. Colhemos o que plantamos, não? A sociedade plantou ódio e colheu muitas Mayaras. Agora o que precisamos não é de um linchamento coletivo e sim orientar nossa juventude para que um dia a sociedade se mova em um caminho de união. E que a Justiça julgue a estudante.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Bolivianos e a Xenofobia


O preconceito contra nordestinos aqui em São Paulo ficou muito evidente durante o processo eleitoral. Como se todo o Nordeste dependesse do Bolsa-família, como se ninguém do Sudeste dependesse do mesmo programa e como se o brasileiro fosse um preguiçoso por natureza. Quanto a esses mitos, gostaria de escrever a respeito também, já que estados como Pernambuco, por exemplo, crescem economicamente a olhos vistos muito mais que o estado de São Paulo. Porém debaterei a questão dos bolivianos. É visível sua presença na maior cidade do país.
Muitos bolivianos, assim como muitos de nossos antepassados de várias nacionalidades e etnias, chegaram ao Brasil para tentarem uma vida melhor. Não há comparação entre a capacidade produtiva brasileira e a boliviana, atraindo mão-de-obra para cá. Como maior centro financeiro do país, São Paulo atrai uma grande parte dessa mão-de-0bra. Segundo matéria publica pela Deutsche Welle, podem ter, somente na capital paulista, entre 100 e 200 mil imigrantes provenientes do país governado por Evo Morales. Apesar de ignorados por parte da população paulistana, são pessoas que utilizam o transporte público, hospitais e escolas. É nesse ponto que reside uma das principais fontes de xenofobia contra esses imigrantes.
Em matérias publicadas em veículos de comunicação no final de setembro, foi divulgado que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo recebeu denúncias a respeito de bullying praticado contra alunos de origem boliviana na Escola Estadual Padre Anchieta. Os imigrantes teriam que pagar uma "taxa" para que não fossem agredidos. Os relatos não param na escola, ocorrendo também em outras unidades de ensino e até mesmo relatos de agressão nas ruas. Assim como no caso de Mayara Petruso, não são atos isolados. Quem tiver curiosidade, digite "bolivianos" na opção de busca em "tópicos" no orkut. Aparecem pérolas como "Bolivianos no bairro... KKK" ou declarações exigindo a expulsão dos imigrantes dos mais diversos locais.
Paralelamente a todos esses fatos, durante a campanha eleitoral, o então candidato José Serra afirmou que 90% de toda a cocaína que vem para o Brasil teria origem na Bolívia. Analisando os números da ONU, apesar da queda de produção na Colômbia, o país ainda conta com a maior área de cultivo de coca com 68.000 hectares, sendo o maior fornecedor de países como os EUA. O Peru registrou um crescimento preocupante e é o segundo maior produtor na América do Sul com quase 60.000 hectares cultivados, tendo a Bolívia como terceira colocada com 30.900 hectares. Muito? Sem dúvida e é preocupante. Porém, nada indica que produz 90% da cocaína que chega ao Brasil como acusou o ex-governador de São Paulo que na verdade isentou os "amigos" Peru e Colômbia e acusou a "inimiga" Bolívia. Qual teria sido o efeito das declarações? Não é possível saber, porém, é certo que nada contribui com a união entre os povos brasileiro e boliviano.
Por que retomar o tema? Penso que após as declarações preconceituosas de Mayara Petruso fica evidente que há muito preconceito em nossa sociedade e todos os grupos étnicos, religiosos, sexuais, regionais considerados minoritários estão correndo riscos. Nosso país precisa ser efetivamente a terra da diversidade ou iniciaremos um caminho de ódio sem volta.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mayara Petruso e o Tea Party




Voltei! Depois de um tempo sem atualizar meu blog. O assunto não é dos mais agradáveis. A moda é falar de Mayara Petruso e não sem razão. Acredito que nem preciso reforçar as críticas à atitude deplorável de uma menina oriunda da classe média paulistana.
A questão é que não vejo a atitude de Mayara Petruso como um ato isolado. Tratando-se de um produto da atmosfera que se desenvolveu durante as eleições brasileiras. Serra, ao se ver em uma situação de total desespero, apelou para o que existe de mais conservador na sociedade. Opus Dei (já representada no PSDB), TFP, integralistas, monarquistas e grupos neonazistas se uniram para derrotar a candidata petista Dilma Rousseff. O apelo de setores da direita extremista teve tanto eco que levou a eleição para o segundo turno e deu ainda 44% dos votos válidos para a candidatura tucana.
A campanha eleitoral serviu como base para os sentimentos mais conservadores da classe média virem à tona, especialmente a paulistana. O ódio contra nordestinos é uma das faces desse processo.
Também não vejo o conservadorismo brasileiro com essa força como fato tipicamente tupiniquim. O "Tea Party" demonstrou crescimento nas eleições parlamentares nos EUA, na Europa observamos uma cruzada anti-islâmica. Por isso, julgar Mayara Petruso apenas como uma menina mimada e preconceituosa é ignorar um fenômeno que ocorre em escala global: o avanço da extrema direita que destila todo seu ódio contra lutas sociais, minorias étnicas, religiosas e outras. Temos que entender e combater esse movimento.